...Há muito sabemos que as emoções negativas provocam determinados efeitos químicos prejudiciais ao corpo, mas apenas recentemente, os pesquisadores começaram a reunir provas de que as emoções positivas também podem provocar alterações químicas. Agora, temos uma imagem do cérebro, não apenas como a sede da consciência, mas como uma glândula, a glândula mais produtiva do corpo humano.



terça-feira, 12 de julho de 2011

Meditação reduz a ansiedade e o estresse e auxilia na cura de doenças

 
Pacientes do hospital da Unifesp estão aprendendo a estimular o cérebro através da meditação. Na UnB, uma pesquisa está avaliando os efeitos da meditação no cérebro de pacientes que tiveram câncer de mama.
por ISABELA ASSUMPÇÃO Cotia, SP

Existe um mundo de possibilidades ao nosso redor. Como perceber cada detalhe, se é uma enxurrada de informações inundando nosso cérebro o tempo todo? E nem sempre estamos atentos. Qual o melhor caminho a seguir? Como ativar determinadas áreas do cérebro que podem nos ajudar a viver mais e melhor? Passo a passo, vamos tentando descobrir.

Os cientistas já têm o mapa e estão pesquisando os benefícios de uma técnica milenar que veio do oriente: a meditação. Ela pode ser um guia muito útil.

Fomos a um sítio a poucos quilômetros da cidade de São Paulo. Nesse encontro, vamos conhecer voluntários de um estudo clínico que está sendo desenvolvido pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Eles são pacientes do Hospital de São Mateus, um bairro pobre na periferia da cidade.

O pedreiro Paulo Pedrosa da Silva, de 76 anos, conta que nunca tinha ouvido falar em meditação.

“Não vou falar para senhora que é fácil, mas também não é difícil, porque tudo vai depender de cada um de nós”, comenta.

Esses senhores e senhoras estão aprendendo a estimular o cérebro através da meditação. “Eu comecei a fazer a meditação e comecei enxergar dentro de mim. O que eu precisava fazer para mim. Eu sou diabética, hipertensa, tenho colesterol altíssimo. Aprendi a me alimentar, aprendi a esperar e a ouvir. E eu fui melhorando. Não tive mais crise de diabetes, não tive mais a hipertensão que subia”, revela Nilda Maria de Jesus, de 64 anos.

Nilsa de Souza Silva, de 76 anos, conta ainda que até aposentou a bengala. “Hoje, eu estou outra. Dois anos atrás, eu fiz o exame. Tinha coluna desviada, bico de papagaio e artrose. Um mês atrás, fiz o exame novamente, e o médico me garantiu que eu não tenho nada na coluna. E eu estou toda feliz”, diz.

“A pessoa passa a encarar a realidade de outro jeito. Disso, decorre uma mudança postural, uma mudança na vitalidade, na imunidade, porque isso atua no que hoje se chama de um único sistema psico-neuro-imuno-endócrino. Então, na medida em que você atua na nascente desse rio, ele cascateia de forma diferente, e o resultado final é outra água, é outro resultado. E no final, você vai ter saúde”, explica o médico gerontólogo Fernando Bignardi, da Unifesp.

Na Universidade de Brasília (UnB), outra pesquisa está avaliando os efeitos da meditação no cérebro de pacientes do hospital universitário, que tiveram câncer de mama.

“Ela (a meditação) deprime as emoções negativas, reduz os hormônios do estresse, aumenta os hormônios como a melatonina, que é um hormônio que ativa o sistema imunitário, deprime as células tumorais. Então, o sistema de defesa, os três sistemas das pessoas começam a funcionar de maneira normal, de maneira equilibrada, de maneira harmônica, de maneira plena. E vem a cura”, aponta o professor titular de Imunologia Carlos Alberto Tosta, da UnB.

“Vinha aquela bateria de exames de A a Z. De primeiro, quando falavam em cintilografia, petscam, esses nomes davam medo. Você está sempre em alerta”, conta a geógrafa Eliane de Nascimento Pinto.

Tudo indica que a prática da meditação reduz a ansiedade e o estresse. “Cortisol é o hormônio do estresse. Com a diminuição do cortisol, há também a diminuição desse estresse, no caso, não só psíquico, com a luta contra a doença, mas também do estresse físico. O organismo é muito atingido por esses tumores que começam a se reproduzir”, declara o psiquiatra Juarez Castellar, da UnB.

É importante frisar que todas as pacientes fizeram o tratamento convencional para combater o câncer. “Não é uma alternativa ao tratamento convencional. É um complemento ao tratamento convencional”, ressalta o professor Carlos Alberto Tosta, da UnB.

“Eu levei a sério. Eu fazia de manhã e à noite, como se fosse um remédio que eu estava tomando”, conta a professora aposentada Janes Castro Teixeira.

“No final, quando nós fizemos o levantamento desses minutos meditados, as que meditaram maior tempo tiveram resultados melhores”, revela o psiquiatra Juarez Castellar.

Foi o que mostrou também aquele o clínico feito com os idosos de São Mateus, que começou em fevereiro deste ano. Mais de 70% melhoraram a postura. Quase 60% passaram a dormir melhor e a sentir menos dores.

“Com dois meses da efetiva prática, nós fizemos uma avaliação, com entrevistas individuais. E foi uma surpresa, porque o depoimento das pessoas mostrava essa mudança, mudança na postura, mudança no humor, que é uma coisa maravilhosa”, afirma a diretora Maridite Oliveira, do Hospital Geral de São Mateus.

Desligar dos problemas e fazer uma viagem para dentro de nós mesmos em um sítio não parece tão difícil. Mas será possível esquecer completamente o mundo exterior, se concentrar e meditar estando no meio da cidade grande, com todos os ruídos que ela tem, mais a pressa, o movimento e a poluição?

A psicóloga Helena Fontes garante que sim. Foi em um momento de crise que ela começou a meditar. “Eu estava passando por uma fase muito doída da minha vida, estava me separando e foi doído. Quando eu medito, não vou para nenhum lugar. Eu fico na minha presença, comigo mesma”, conta.

“Quando você vê, por exemplo, um ventilador em movimento, você não consegue ver rápido aquelas hélices. Você sabe que tem lá, e a meditação ela te dá uma pausa para a vida. Você consegue ver na sua vida sutilezas da vida, mas isso quem te traz é a prática de uma meditação. Isso não é místico. Não tem nada a ver com isso. É apenas a atenção”, ressalta a psicóloga. “As guerras internas se acalmam. Você vê a hélice do ventilador direitinho e você se refresca”.

Uma pesquisa, realizada no Hospital Albert Einstein, em São Paulo, avaliou os efeitos da meditação intensiva no cérebro. “Tem muitos benefícios imunológicos, muitos benefícios psicológicos, tem muitos benefícios psiquiátricos, cardiovasculares, sem dúvida nenhuma. Provavelmente, tudo beneficia na meditação”, afirma o neurologista João Radvany, do Hospital Albert Einstein.

Os voluntários foram divididos em dois grupos: os que estavam habituados a meditar, como a Helena, e os que nunca haviam meditado antes. A neuropsicóloga Ivanda Tudesco participou do estudo e se surpreendeu.

Apesar das dores no joelho e da dificuldade para começar a meditar, ela acha que valeu. “Eu acho que eu saí diferente. A palavra seria: ‘mais focada’, nos meus objetivos, no que eu estou fazendo aqui e agora”, aponta Ivanda.

“Para um iniciante, o grande ganho é aprender a relaxar e ao mesmo tempo manter a atenção. Não é simplesmente relaxar para dormir, mas é relaxar a tal ponto que você consegue desempenhar as suas atividades e, muitas vezes, desempenhar as atividades até melhor do que antes que você não praticava a meditação”, conta a pesquisadora Elisa Kozasa, do Instituto do Cérebro, do Hospital Albert Einstein.

Os primeiros resultados indicam que a área do cérebro responsável pela atenção fica bastante ativada nas pessoas que meditam. Conhecendo o caminho, fica mais fácil chegar lá.

Fonte: http://g1.globo.com/globo-reporter/noticia/2010/10/meditacao-reduz-...

Células tumorais expostas à "Quinta Sinfonia", de Beethoven, perderam tamanho ou morreram‏





Mesmo quem não costuma escutar música clássica já ouviu, numerosas vezes, o primeiro movimento da "Quinta Sinfonia" de Ludwig van Beethoven. O "pam-pam-pam-pam" que abre uma das mais famosas composições da História, descobriu-se agora, seria capaz de matar células tumorais - em testes de laboratório. Uma pesquisa do Programa de Oncobiologia da UFRJ expôs uma cultura de células MCF-7, ligadas ao câncer de mama, à meia hora da obra. Um em cada cinco delas morreu, numa experiência que abre um nova frente contra a doença, por meio de timbres e frequências.

A estratégia, que parece estranha à primeira vista, busca encontrar formas mais eficientes e menos tóxicas de combater o câncer: em vez de radioterapia, um dia seria possível pensar no uso de frequências sonoras. O estudo inovou ao usar a musicoterapia fora do tratamento de distúrbios emocionais.


Esta terapia costuma ser adotada em doenças ligadas a problemas psicológicos, situações que envolvam um componente emocional. Mostramos que, além disso, a música produz um efeito direto sobre as células do nosso organismo - ressalta Márcia Capella, do Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho, coordenadora do estudo.

Como as MCF-7 duplicam-se a cada 30 horas, Márcia esperou dois dias entre a sessão musical e o teste dos seus efeitos. Neste prazo, 20% da amostragem morreu. Entre as células sobreviventes, muitas perderam tamanho e granulosidade.

O resultado da pesquisa é enigmático até mesmo para Márcia. A composição "Atmosphères", do húngaro György Ligeti, provocou efeitos semelhantes àqueles registrados com Beethoven. Mas a "Sonata para 2 pianos em ré maior", de Wolfgang Amadeus Mozart, uma das mais populares em musicoterapia, não teve efeito.

Foi estranho, porque esta sonata provoca algo conhecido como o "efeito Mozart", um aumento temporário do raciocínio espaço-temporal - pondera a pesquisadora. Mas ficamos felizes com o resultado. Acreditávamos que as sinfonias provocariam apenas alterações metabólicas, não a morte de células cancerígenas.

"Atmosphères", diferentemente da "Quinta Sinfonia", é uma composição contemporânea, caracterizada pela ausência de uma linha melódica. Por que, então, duas músicas tão diferentes provocaram o mesmo efeito?

Aliada a uma equipe que inclui um professor da Escola de Música Villa-Lobos, Márcia, agora, procura esta resposta dividindo as músicas em partes. Pode ser que o efeito tenha vindo não do conjunto da obra, mas especificamente de um ritmo, um timbre ou intensidade.

Quando conseguir identificar o que matou as células, o passo seguinte será a construção de uma sequência sonora especial para o tratamento de tumores. O caminho até esta melodia passará por outros gêneros musicais. A partir do mês que vem, os pesquisadores testarão o efeito do samba e do funk sobre as células tumorais.

Ainda não sabemos que música e qual compositor vamos usar. A quantidade de combinações sonoras que podemos estudar é imensa - diz a pesquisadora.

Outra via de pesquisa é investigar se as sinfonias provocaram outro tipo de efeito no organismo. Por enquanto, apenas células renais e tumorais foram expostas à música. Só no segundo grupo foi registrada alguma alteração.

A pesquisa também possibilitou uma conclusão alheia às culturas de células. Como ficou provado que o efeito das músicas extrapola o componente emocional, é possível que haja uma diferença entre ouví-la com som ambiente ou fone de ouvido.

Os resultados parciais sugerem que, com o fone de ouvido, estamos nos beneficiando dos efeitos emocionais e desprezando as consequências diretas, como estas observadas com o experimento - revela Márcia.


Fonte: O Globo - Renato Grandelle http://oglobo.globo.com/